Viajar com o comum
mortal tanto pode sufocar como inspirar aquela vontade indescritível de partir,
de não sair na estação devida, mas de prosseguir viagem.
O facto de comprar
bilhete e ao entrar na carruagem ter de partilhar o varão quente para me agarrar
e não cair, ou tentar encontrar um lugar vago nos degraus para o piso superior,
é algo que me rebela a alma. E quando finalmente surge um lugar vago e peço
cordialmente ao jovem engravatado "Dá-me licença?..." e este olha
para mim com ar aborrecido, pois tem de
parar a leitura d' A casa grande de Romariguães,- finges que encolhes as pernas quando devias
levantar-te e ajudar uma jovem senhora a sentar-se quando o comboio está em
andamento, aliás, deverias ter cedido o
teu lugar de fato amarrotado e colarinho amarelado à senhora de 60 anos que
viajou 30 minutos de pé. E tu! com o teu ar vazio de náusea ainda franzes o
sobrolho quando eu cordialmente e com um sorriso me dirijo a ti.